quarta-feira, 1 de junho de 2011

Brasil é modelo de luta contra Aids para América Latina

País produz dez dos 20 medicamentos de tratamento antiAids distribuídos na Bolívia, Paraguai, Nicarágua, Equador e países da África


TONINHO ALMADA
aids
Enfrentamento dos laboratórios internacionais: Funed produz genérico contra Aids
Com um programa precoce de distribuição gratuita de medicamentos e o enfrentamento frontal das poderosas companhias farmacêuticas multinacionais, o Brasil se tornou o grande modelo de luta contra a Aids na América Latina e no mundo em desenvolvimento, nos 30 anos de descoberta da doença.

"Quando nenhum país havia tomado esta decisão, o Brasil se tornou, em 1996, o primeiro país em desenvolvimento a oferecer a terapia pública e para todas as pessoas" infectadas, disse à AFP o coordenador no Brasil do programa OnuAids, Pedro Chequer.

"A expectativa de vida antes da introdução da terapia era de 5,8 meses; com a terapia, passou a 58 meses e hoje temos muitas pessoas que estão há mais de 20 anos convivendo com o HIV", disse à AFP Eduardo Barbosa, diretor adjunto do programa brasileiro contra a Aids, que acaba de completar 25 anos.

O Brasil assumiu um papel preponderante no enfrentamento dos laboratórios internacionais para baratear os preços dos medicamentos antiAids nos países em desenvolvimento. "Entre o nosso comércio e a nossa saúde, nós cuidaremos da nossa saúde", afirmou em 2007 o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao confirmar a primeira quebra de patente brasileira do remédio  antiAids Efavirenz, do laboratório Merk.

Esta batalha começou em 2001, quando o então ministro da Saúde José Serra ameaçou quebrar as patentes dos laboratórios. Após um embate com os Estados Unidos, que ameaçaram levar o Brasil à Organização Mundial do Comércio (OMC), o gigante latino-americano conseguiu uma substancial redução de preços.

O Brasil produz hoje dez dos 20 medicamentos de tratamento antiAids, que também distribui a países da África e da América Latina, como Bolívia, Paraguai, Nicarágua e Equador. Em 2008, montou uma fábrica de antirretrovirais em Moçambique. "O modelo brasileiro virou referência porque muito precocemente adotou uma ação integrada de prevenção e tratamento, sem se deixar influenciar pela Igreja ou pela norma moral", disse o coordenador da OnuAids.

País com mais católicos no mundo, o Brasil distribui gratuitamente meio milhão de preservativos ao ano. Sua famosa campanha "Sem camisinha não tem Carnaval", completou 13 anos. Estima-se que 630.000 pessoas vivam com HIV no Brasil e 210.000 recebem tratamento do Estado. Estima-se  que mais de 250.000 não tenham sido diagnosticadas porque nunca se submeteram a um teste, um enorme desafio para o País.

Na região, vários países fizeram avanços cedo na luta contra a Aids, como Uruguai, Argentina, Costa Rica e Cuba, e a América Latina conseguiu, de longe, evitar que a epidemia chegasse aos níveis catastróficos da África. No entanto, em alguns países, como em boa parte da América Central, "a luta atrasou muito" devido à prevalência do conservadorismo e à forte dominação da Igreja, explicou Chequer.

A América Latina tem hoje 1,6 milhão de soropositivos e 800.000 deles não têm acesso a tratamentos médicos, segundo dados da OnuAids. "A América Latina promoveu o acesso universal à prevenção, ao tratamento e à atenção, mas ainda há obstáculos para alcançar as metas estabelecidas", afirmou o diretor regional da OnuAids, César Antonio Núñez.

Atualmente, 33,3 milhões de pessoas vivem com HIV no mundo, das quais 22,5 milhões estão na África subsaariana, segundo o programa da ONU. As organizações Act Up e Aides estimam que 70% dos doentes do planeta não tenham acesso aos medicamentos antirretrovirais. Mais de 60 milhões de pessoas foram contaminadas pelo vírus da Aids, desde a sua descoberta há 30 anos, em 5 de junho de 1981.
 
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