É cedo da manhã quando funcionários e pacientes no Hospital McCord, em Durban, na África do Sul, se reúnem na recepção para a cerimônia do Dia Mundial de Combate à Aids, que acontece nesta quinta-feira (1º ).
Trata-se de um hospital missionário, fundado há mais de um século por um americano, com o intuito de ajudar o povo zulu, etnia que vive nessa região. O tom do evento é religioso. O pregador pede a Deus que ajude os cientistas a desenvolverem uma cura para derrotar de vez o HIV.
Em outro momento, lembra que a Aids não é a primeira doença a ameaçar a África, nem será a que conseguirá destruí-la. O paciente que iria discursar passou mal e não veio. Todos fazem um minuto de silêncio pelos amigos que já se foram. Em seguida, cantam (veja vídeo acima).
Durban é a maior cidade da província de Kwazulu-Natal, a que tem maior número de pessoas com HIV dentro do país com mais portadores da doença no mundo. Levantamento de 2008 indica que 15,8% da população da província está infectada, índice mais de 30 vezes maior que no Brasil. A expectativa de vida em Kwazulu-Natal não chega a 53 anos.
E em toda a África do Sul, a Aids é responsável por quase metade de todas as mortes. Relatório do governo mostra que das 591 mil pessoas que morreram no país em um ano, 258 mil sucumbiram a essa doença. O HIV tem sido muito mais mortífero do que foi o regime racista do apartheid.
A cultura zulu é, por uma série de circunstâncias, uma facilitadora da doença. Nas áreas rurais, a estrutura social ainda é patriarcal. Os homens podem se relacionar com muitas mulheres.
Ao mesmo tempo, os casos de violência contra as mulheres são frequentes. Fazendo sexo, consensualmente ou não, muitas delas acabam infectadas.
As opiniões controversas do ex-presidente Thabo Mbeki, que governou de 1999 a 2008, sobre a Aids, também foram um fator para que o país chegasse a este estado.
Ele questionava a ligação entre o vírus HIV e a doença Aids, além de não estar convencido da importância dos antirretrovirais. Seu governo encorajou por muito tempo um modo de vida saudável, recomendando, por exemplo, o consumo de legumes, em vez do uso de medicamentos contra a doença. Os antirretrovirais não chegavam aos mais pobres e milhares morreram desnecessariamente.
“Lembro de ver avós que gastavam a aposentadoria inteira para comprar remédios para salvar a vida dos netos infectados”, conta Lungile Hlongwa, assistente social do Hospital McCord.
Avós que cuidam de netos cujos pais morreram de Aids são comuns no país. A estimativa oficial é que haja 2 milhões de crianças órfãs por causa da doença. E grande parte delas também está contaminada.
Apesar do quadro crítico, as perspectivas têm ficado mais otimistas graças ao maior acesso aos coquetéis de medicamentos antirretrovirais, aos quais agora 1 milhão de pessoas têm acesso no país.
“Ainda assim, para cada pessoa que recebe tratamento com antirretrovirais, duas são infectadas. Isso é um desastre de saúde pública”, diz a professora Helen Rees, da Universidade de Witwatersrand, em Johanesburgo, a uma rádio local. Calcula-se que haja 5,6 milhões de soropositivos em um total de cerca de 50 milhões de habitantes na África do Sul.
Graças aos antirretrovirais, na unidade pediátrica do McCord, a reportagem do G1 só viu crianças bem-alimentadas e com aparência sadia. “Com os antirretrovirais as crianças ganham peso e logo vão à escola”, relata Lungile Hlongwa. O local parece uma simples creche.
Os pequenos pacientes não são mais preparados para a morte. “Aqui eles aprendem a como viver tendo HIV”, diz a assistente-social. A unidade de tratamento paliativo foi desativada, porque se decidiu investir recursos de outras maneiras.
TuberculoseO passeio pelo hospital passa por uma cabana de madeira ao ar livre, para onde são mandadas as pessoas com qualquer sinal de tuberculose. Essa doença pulmonar, associada à Aids, tem um resultado mortal. Metade das pessoas que vão parar na cabana têm, de fato, tuberculose, relata uma funcionária.
Por ser um hospital privado, ainda que beneficente, o McCord tem mais recursos que as unidades de saúde pública e, por isso, quem consegue tratamento ali pode se considerar privilegiado. São cerca de 6 mil adultos e 1.250 crianças. “O que oferecemos aqui o governo não tem condições de dar a todos”, aponta Lungile.
A reportagem tenta abordar pacientes na unidade de HIV, mas funcionários pedem para evitar constrangimentos. “Eles vão aceitar falar, mas eles aceitam qualquer coisa que pedirem, pois estão muito fragilizados”, intervém uma colaboradora. A Aids ainda é um fator grave de preconceito e exclusão. O resultado é que muitas pessoas se recusam a fazer o teste para saber se estão contaminadas, o que agrava ainda mais a situação.
O atual presidente da África do Sul, Jacob Zuma, deve apresentar nesta quinta-feira um novo plano estratégico de combate à Aids.
Trata-se de um hospital missionário, fundado há mais de um século por um americano, com o intuito de ajudar o povo zulu, etnia que vive nessa região. O tom do evento é religioso. O pregador pede a Deus que ajude os cientistas a desenvolverem uma cura para derrotar de vez o HIV.
Em outro momento, lembra que a Aids não é a primeira doença a ameaçar a África, nem será a que conseguirá destruí-la. O paciente que iria discursar passou mal e não veio. Todos fazem um minuto de silêncio pelos amigos que já se foram. Em seguida, cantam (veja vídeo acima).
Durban é a maior cidade da província de Kwazulu-Natal, a que tem maior número de pessoas com HIV dentro do país com mais portadores da doença no mundo. Levantamento de 2008 indica que 15,8% da população da província está infectada, índice mais de 30 vezes maior que no Brasil. A expectativa de vida em Kwazulu-Natal não chega a 53 anos.
E em toda a África do Sul, a Aids é responsável por quase metade de todas as mortes. Relatório do governo mostra que das 591 mil pessoas que morreram no país em um ano, 258 mil sucumbiram a essa doença. O HIV tem sido muito mais mortífero do que foi o regime racista do apartheid.
A cultura zulu é, por uma série de circunstâncias, uma facilitadora da doença. Nas áreas rurais, a estrutura social ainda é patriarcal. Os homens podem se relacionar com muitas mulheres.
Ao mesmo tempo, os casos de violência contra as mulheres são frequentes. Fazendo sexo, consensualmente ou não, muitas delas acabam infectadas.
As opiniões controversas do ex-presidente Thabo Mbeki, que governou de 1999 a 2008, sobre a Aids, também foram um fator para que o país chegasse a este estado.
Ele questionava a ligação entre o vírus HIV e a doença Aids, além de não estar convencido da importância dos antirretrovirais. Seu governo encorajou por muito tempo um modo de vida saudável, recomendando, por exemplo, o consumo de legumes, em vez do uso de medicamentos contra a doença. Os antirretrovirais não chegavam aos mais pobres e milhares morreram desnecessariamente.
“Lembro de ver avós que gastavam a aposentadoria inteira para comprar remédios para salvar a vida dos netos infectados”, conta Lungile Hlongwa, assistente social do Hospital McCord.
Avós que cuidam de netos cujos pais morreram de Aids são comuns no país. A estimativa oficial é que haja 2 milhões de crianças órfãs por causa da doença. E grande parte delas também está contaminada.
Apesar do quadro crítico, as perspectivas têm ficado mais otimistas graças ao maior acesso aos coquetéis de medicamentos antirretrovirais, aos quais agora 1 milhão de pessoas têm acesso no país.
“Ainda assim, para cada pessoa que recebe tratamento com antirretrovirais, duas são infectadas. Isso é um desastre de saúde pública”, diz a professora Helen Rees, da Universidade de Witwatersrand, em Johanesburgo, a uma rádio local. Calcula-se que haja 5,6 milhões de soropositivos em um total de cerca de 50 milhões de habitantes na África do Sul.
Graças aos antirretrovirais, na unidade pediátrica do McCord, a reportagem do G1 só viu crianças bem-alimentadas e com aparência sadia. “Com os antirretrovirais as crianças ganham peso e logo vão à escola”, relata Lungile Hlongwa. O local parece uma simples creche.
Os pequenos pacientes não são mais preparados para a morte. “Aqui eles aprendem a como viver tendo HIV”, diz a assistente-social. A unidade de tratamento paliativo foi desativada, porque se decidiu investir recursos de outras maneiras.
TuberculoseO passeio pelo hospital passa por uma cabana de madeira ao ar livre, para onde são mandadas as pessoas com qualquer sinal de tuberculose. Essa doença pulmonar, associada à Aids, tem um resultado mortal. Metade das pessoas que vão parar na cabana têm, de fato, tuberculose, relata uma funcionária.
Por ser um hospital privado, ainda que beneficente, o McCord tem mais recursos que as unidades de saúde pública e, por isso, quem consegue tratamento ali pode se considerar privilegiado. São cerca de 6 mil adultos e 1.250 crianças. “O que oferecemos aqui o governo não tem condições de dar a todos”, aponta Lungile.
A reportagem tenta abordar pacientes na unidade de HIV, mas funcionários pedem para evitar constrangimentos. “Eles vão aceitar falar, mas eles aceitam qualquer coisa que pedirem, pois estão muito fragilizados”, intervém uma colaboradora. A Aids ainda é um fator grave de preconceito e exclusão. O resultado é que muitas pessoas se recusam a fazer o teste para saber se estão contaminadas, o que agrava ainda mais a situação.
O atual presidente da África do Sul, Jacob Zuma, deve apresentar nesta quinta-feira um novo plano estratégico de combate à Aids.